"Oitenta por cento das almas são feitas de ferro" (2021)
A hematita é o principal minério de ferro, de cor avermelhada seu nome vem do grego hemos e quer dizer sangue. Nesse sentido, penso o processo de oxidação dos ferros como uma marca, uma espécie de ferida deixada pelo tempo e pela natureza em reivindicação daquilo que lhe foi saqueado.
A partir de uma chapa de ferro em processo avançado de oxidação foram traçadas quatro peças, quatro esculturas. A primeira delineada pelo mapa de Minas Gerais – maior estado produtor de minério de ferro -, em segundo o mapa de Marina – cidade onde ocorreu em 2015 o mais trágico acidente em decorrência da mineração -, em terceiro o mapa de Brumadinho – outra cidade acidentada em 2019 pela mineração – e por fim um pequeno pedaço de ferro deteriorado.
As peças são apresentadas sob o título de “Oitenta por cento das almas são feitas de ferro” o qual faz uma menção ao poema "Confidência do Itabirano" de Carlos Drummond de Andrade onde o autor faz referência à Itabira sua cidade natal e ao processo de mineração ocorrido por lá. Especialmente na frase título, o autor traça uma relação entre alma (abrigada pelo corpo) e o ferro (abrigado antes no ventre da terra).
O entrelaçamento entre natureza, território, corpo e ferro são latentes no trabalho. A prática do oficio de ferreiro é uma habilidade herdada de meus familiares no interior de Minas Gerais. A cada gesto do que chamo de oficio poético, proponho desvios por não sucumbir o ferro ao seu uso corriqueiro. Em “Oitenta por cento das almas são feitas de ferro” encontro um modo de relacionar o ato ao material, ao território e à natureza, numa maneira de expandir o gesto em outra escala.
"Oitenta por cento das almas são feitas de ferro" (2021) - chapa de ferro oxidada delineada pelos mapas de Minas Gerais, Mariana, Brumandinho e fragmento de ferro.
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