Em tempos dominados por um falocentrismo ressentido que celebra a pulsão de morte e a destruição da diversidade, buscar um território possível de respiro vital é um ato de rebelião.
A mera contemplação do vôo de uma pipa é algo capaz de trazer esse respiro, porque nos rememora a vocação humana para a liberdade.
O universo lúdico sempre fez parte do meu repertório criativo. Especificamente no que se refere a questões de gênero, criei a série Toy Pussy, que continuo produzindo até hoje, e que denuncia a castração simbólica concretizada no corpo da boneca Barbie, retratando a vagina que ela não tem.
A obra VoaVulva, que eu apresento agora para esse edital, propõe novamente a criação de uma iconografia da genitália feminina dentro de um contexto lúdico. Com ela, busco subverter o padrão heteronormativo das brincadeiras infantis, com pipas que ostentam, cada uma, um desenho diferenciado de uma grande vulva colorida.
Brincar com pipa, tradicionalmente aqui no Brasil, é algo que tem a ver com uma competição entre meninos ou entre homens. Nas “batalhas” de pipa, a linha com cerol de uma pipa corta a linha da outra, que passa a ser de propriedade do “vencedor”.
VoaVulva, também revisita a dinâmica dessa brincadeira, que passa a operar em um campo, não mais de disputa, e sim de cooperação entre mulheres, diversas em cores, tamanhos e orientações sexuais.
Elas foram convidadas a participar, mas a grande maioria não tinha nenhuma experiência com pipas, o que trouxe uma espontaneidade a toda a ação performática, concretizada, ao final, na peça de vídeo que será apresentada.
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