"A Terra é uma mulher" e ela está sangrando: essa é a temática de nossa exposição que faz uma leitura da situação climática e suas relações com o corpo feminino. Em tradições antigas ancestrais indígenas, se diz que a própria Terra é uma mulher, uma Deusa, e que a humanidade se perdeu no momento em que desacralizou o chão que pisa e passou a violentar e agredir a chamada "Mãe Natureza". Segundo os povos originários, guardiões das florestas, só há uma maneira de parar o ecocídio atual: reverenciando a Terra como uma mulher sagrada.
Essa é uma mudança de paradigma: pois fala não só sobre parar a exploração ambiental, mas como também mexe no aspecto cultural que é ver a Divindade não como um homem (Deus), mas uma mulher (Deusa). Pois uma sociedade só deixará de ser misógina no momento em que até no altar haja igualdade de gênero.
Essa exibição fala sobre as conversas de feminismo, ecofeminismo, raízes ancestrais, Sagrado Feminino, floresta como fonte de vida e debate ecológico: nessa mistura tropical e atual vamos entender as linguagens abstratas e figurativas do corpo da mulher como um corpo político de resistência e luta, símbolo da própria Terra que agoniza. O corpo feminino que tantas vezes foi visto apenas como objeto sexual e que ao longo da história foi brutalizado e domesticado, agora é conectado com a figura da própria Terra que também sangra ao ser escravizada pela ganância dos homens. Mas existe uma esperança: esse mesmo corpo que sangra de violência também tem o sangue da vida que fecunda uma nova consciência. Os valores masculinos (competição, agressividade, guerra) aos poucos dão espaço para os valores femininos (cooperação, empatia, acolhimento, respeito à Natureza). Nessa exibição, o corpo feminino é visto como um portal para o renascimento de uma nova consciência, alinhada com objetivos sustentáveis.
"A Terra é uma Mulher" surge depois de um ano cercado de retrocessos quanto a políticas ambientais brasileiras - o Brasil é conhecido no Exterior por ser o "pulmão do mundo" em função de sua diversidade, mas a política atual tem pouco interesse em se comprometer com a agenda sustentável, estamos com o maior desmatamento da Amazônia nos últimos 10 anos, garimpeiros ilegais funcionando com aval do governo e atrasos nas leis de demarcação indígena, enquanto pecuaristas ganham benefícios. Por todas essas questões, quando a indignação é grande demais, só nos resta uma saída: fazer arte. Pois a arte questiona e inspira.
As técnicas utilizadas são acrílica sob tela e em todas obras se pode ver a temática dos corpos, das raízes, das mulheres que, apesar das dores, renascem para um novo amanhã, mais verde.
Nesta obra em específico, "ancestralidade reunida" vemos os diferentes panos de fundo, as diferentes origens que nos marcam e delimitam e a árvore como símbolo desse feminino que coopera e costura possibilidades.
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