O outro lado do espelho é um espelho 1

O outro lado do espelho é um espelho 1 - Nikon FM2, Nikkor 1.4 50mm, Portra 400.

A humanidade ocupa o espaço digital há décadas, expandindo as noções de relacionamentos, as delimitações geográficas, as formas de interagir com objetos, seres e lugares e, acima de tudo, a compreensão e expressão de sua própria identidade. A socialização dentro dos ambientes virtuais ocorre através de múltiplas linguagens, mas assim como nos espaços físicos, a influência da imagem sobre nós prevalece. Observamos a nós mesmos e aos acontecimentos ao nosso redor por meio de telas, lentes e relatos de terceiros, tendo boa parte das interações mediadas por imagens em celulares, tablets, computadores e televisores.

Com as transformações causadas pela crise pandêmica, a internet tornou-se nosso principal espaço de convívio, onde trabalho, entretenimento e relacionamentos ocupam os mesmos territórios. As antigas crenças de que o mundo online seria um abrigo perfeito para a liberdade e fraternidade chocaram-se com a mercantilização de desejos, sentimentos e ideais em prol de uma sociedade do consumo, apropriando-se da imagem e transformando-a em um produto onipresente. Se a fotografia garante imortalidade a determinado indivíduo ou evento no mundo físico, ao serem veiculadas online elas transcendem ainda mais as barreiras de tempo e espaço, se dissociando de sua origem e criador, onde a cada compartilhamento seus signos são reescritos e alterados de forma autônoma.

A multiplicação das imagens em diversos dispositivos eletrônicos reflete a fragmentação da identidade do sujeito moderno em sua tentativa de consumir todas as informações ofertadas em seu meio, procuramos nos conectar a lugares e pessoas que correspondam aos nossos valores, vontades e vivências, mas a terceirização do contato com a realidade resulta em um esgotamento energético e um apagamento de nossa identidade. As relações e observações construídas até aqui se fragmentam não para habitar diferentes espaços, mas pelas frágeis estruturas que as sustentam. Nos deslocamos entre algoritmos e números binários buscando ser compreendidos e pertencer a uma comunidade, enquanto continuamos inertes nas incógnitas cotidianas do mundo físico. Se o que está no mundo virtual reflete o que está no mundo real, as bordas deste espelho estão cada vez mais invisíveis.

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