Concreto Armado II
Performance, 2021.
Washington Pastore
Caracterização (bodyart) com argila da região ceramista de Rio Claro, documentação fotográfica e fílmica, por: Nilton Tscherne, Patricia Aunés, Vinicius Pastore, Luis Anelli, Lu Zanollo.
A música concreta de Pierre Schaeffer ¨Étude de Bruits¨ (Estudo de ruídos) ajuda construir o conceito dessas obras, assim como foi trilha de instalação e exposição da série Concreto Armado (acrílica sobre tela, na Associação Instituto Cultural Janela Aberta, 2015), e inspiração para base da documentação fílmica da performance (2021), da mesma forma, como ilustração e inspiração o tão atual Ferreira Goulart (concretismo e neoconcretismo), em “Traduzir-se” e “Não cabe no poema”.
Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
(Ferreira Goulart)
Novamente Ferreira Goulart, atualíssimo:
Não Há Vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
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