Até o início de maio o Brasil havia contabilizado por volta de 400.000 mortes por Covid-19. Nossa população pobre tem pagado com morte cada dia mais. Uti’s superlotadas, hospitais públicos colapsando e os sistemas funerários sob estado de calamidade. Nesse contexto surge “Funeral Trincheira”. A pintura se apropria de ícones históricos brasileiros contemporâneos como as máscaras de proteção coloridas, a falta delas ou o nariz descoberto. Também existe uma “Pinturafagia”, nesse caso, digiro a obra Operários de Tarsila do Amaral, concebida em 1933. Operários foi e é um registro histórico do período de industrialização brasileira que retrata uma classe vulnerável e explorada, por isso é usado como principal referência na concepção de Funeral Trincheira. Muito pela tangência que existe entre aquele período e a contemporaneidade. Obviamente até 2020 existem quase 90 anos de distância temporal e cultural, da “industrialização” até hoje muitas coisas mudaram e isso exige uma adaptação dos rostos que também se modificaram ao longo de tantas transformações no Brasil. Hoje em dia Operários está no Acervo do Palácio Boa Vista, ironicamente em poder do estado. Esse na pintura Funeral Trincheira é representado pelo grande “porco” vestido de uma máscara verde militar e cinza. Ele pisa na cabeça da população localizada na beira de um abismo. Essa espécie de Homem Porco indica para as pessoas que o carregam, a direção na qual devem seguir, essa direção são as covas no fim do abismo. As trincheiras evocam uma memória de guerra que me interessa no que se faz referência a concepção do trabalho. A matéria publicada pelo jornal Metrópoles em 24 de abril de 2020 mostra como a palavra usada para se referir a sepulcros traz consigo todo peso nela contida: (...) Devido à grande demanda de sepultamentos nos últimos dias, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) de Manaus adotou o sepultamento por meio de trincheiras no cemitério público Nossa Senhora de Aparecida (...). Estamos em um momento extremamente crítico e as pessoas parecem não se importar com nada disso. O uso de uma iconologia e a apropriação de símbolos brasileiros foram necessários para expressar essa visão do contexto. Funeral Trincheira é um grito de denúncia que escancara as problemáticas desta “distopia” onde todos nós estamos vivendo.
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