O modo como penso a pintura se modificou na medida em que fui aprendendo como as estruturas dentro desse sistema funcionam. Nesse sentido uma quebra muito grande que teve impacto direto em meus trabalhos foi com a igreja, o sentimento de complicidade que cultivava quando criança se transformou em revolta desencadeando uma sede por questionamento e respostas. Foi como expandir as possibilidades, jogar fora o medo e a culpa cristã. Lembro que até os quinze anos meus já tratava de temas religiosos ou relacionados a credos, porém ainda ligado a concepção de não contestação de certos dogmas. Nesse sentido, a quebra veio tênue aos estudos teóricos sobre história medieval e como o Estado Eclesiástico usou da bíblia e da arte como forma de alienação e exercício de poder sobre todos. Quando comecei a entender, ainda que de forma superficial, o papel que essas intuições exerceram ao longo da história, somado aos sentimentos explosivos de um adoscente, suscitou em mim a necessidade de um posicionamento contrário a esses preceitos. Passei então a produzir em torno daquilo que a igreja abomina, assuntos proibidos. Demônios, bruxaria, feitiços, bodes e rituais tomaram conta de boa parte de minha produção durante os anos seguintes, na época acreditava que ao representar figuras e situações de certa forma opostas ao que me foi dito como certo, estaria reivindicando essas outras possibilidades de conhecimento. Hoje percebo a importância de ter me permitido pintar sem objeções e o peso político disso.
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